Dia 08 de outubro soube por Mônica que o corredor e amigo de Julio, Paulo Picanha, tinha sido atropelado fazendo um treino em Orlando (EUA).
De imediato senti um enorme pesar pelo que aconteceu, e mesmo sem saber detalhes do acidente fiz minhas orações para Paulo. Pensei... Podia ter sido qualquer um de nós/vocês que correm e que agora acompanham este blog. Pensei em mim, me arriscando aqui em Caruaru, correndo na Avenida, pulando da calçada para pista, concorrendo com os carros e motos por espaço. Pensei nos meus filhos e nos dele também. Não é justo que eles sofram ou sintam nossa dor.
Emocionei-me lendo o post de Julio (logo que ele voltou das Maratonas de Chicago e Toronto). Em vez de escrever sobre a viagem, as maratonas, ele fez uma bela homenagem a Paulo numa retrospectiva de sucesso, amizade, superação, alegria e amor pela corrida.
Na mesma semana atendi um paciente no consultório que gosta de corrida também e comentei sobre o acidente. Foi assim que histórias se cruzaram.
Este meu paciente sofreu um acidente de carro, onde teve fraturas múltiplas na bacia e perna direita.. Usa pinos e parafusos enormes. Fez várias cirurgias e anos de fisioterapia. Disse a mim que no Hospital, desanimado, pediu para não ser visitado em hipótese alguma. Jovem, teve o diagnóstico de que não poderia mais fazer atividade física de impacto.
Foi aí que um filme reprisou em mina mente. Em Dezembro de 2004 fui assaltada e alvejada com um tiro de arma de fogo. O projétil ficou alojado num ossinho da bacia do lado direito. Fui socorrida e numa cirurgia de urgência de cinco horas deu tudo certo. Uma semana depois já estava em casa, feliz da vida. No Reveillon comecei a sentir dores terríveis no pé direito. Voltei aos médicos, especialistas e eles disseram que estava com uma (Causalgia Pós Traumática.), os nervos do pé foram muito atingidos. As crises eram diárias, e a dor, 24 horas. Cheguei a pedir que amputassem meu pé... Mas agüentei, reagi, e depois de 6 meses fazendo fisioterapia e tratamento, as dores passaram e reaprendi a andar. Nessa época nem pensava em correr.
Nesse sábado, 30 de outubro fui correr na avenida, ou melhor, pelas calçadas de Caruaru, à noite, umas oito horas. Uma corredora solitária, as ruas pouco movimentadas. Os bares cheios de gente e com certeza me olhavam como se fosse uma alienígena.
E não é que eu encontro outro corredor solitário, música alta no ouvido, num passe muito veloz para alcança-lo... meu paciente. Que hoje é corredor, feliz, sem dores, e que só não gosta de competir.
Lembrei de Paulo na hora. Que hoje luta para passar pelos primeiros e difíceis momentos, mas que logo estará na sua terrinha, com seus amigos, com sua família, com a Acorja.
Eu, meu paciente, Paulo, tivemos a sorte maior e a bênção de Deus de vencer a batalha e comemorar A VIDA.
Um abraço e muita força para família de Paulo.
Mariana Cordeiro
O distraído nela tropeçou...
O bruto a usou como projéctil.
O empreendedor, usando-a, construiu.
O camponês, cansado da lida, dela fez assento.
Para meninos, foi brinquedo.
Drummond a poetizou.
Já Davi matou Golias e Michelângelo extraiu-lhe a mais bela escultura...
E em todos esses casos, a diferença não esteve na pedra, mas no homem!"